As redes neutras seguem no topo das tendências de conectividade, favorecendo o avanço das infraestruturas de Internet, mesmo em regiões de difícil acesso, geograficamente inóspitas, ou longe dos grandes centros urbanos. Este artigo explora o conceito de redes neutras e mostra aspectos de seu papel na evolução das telecomunicações.
As redes neutras seguem no topo das tendências de conectividade, favorecendo o avanço das infraestruturas de Internet, mesmo em regiões de difícil acesso, geograficamente inóspitas, ou longe dos grandes centros urbanos. Especialmente nos dois últimos anos, com a aceleração da transformação digital e o crescimento das atividades remotas, as redes neutras se tornaram fundamentais para a entrega de internet de qualidade, garantindo a continuidade de atividades laborais, acadêmicas e o contato entre as pessoas. Este artigo explora o conceito de redes neutras e mostra aspectos de seu papel na evolução das telecomunicações.
Do código Morse aos Bits e Bytes
Quando pensamos em redes neutras, a primeira ideia que nos vem à mente é o conceito de isonomia, ou seja, a neutralidade da rede, também conhecida como neutralidade da Internet, ou princípio de neutralidade, que tem como regra a não discriminação de todos os utilizadores da rede, com o objetivo de garantir uma Internet aberta e acessível a todos os cidadãos. O conceito de neutralidade surgiu há mais de 150 anos, mais precisamente em 1860, quando uma lei norte-americana definiu que o serviço de telégrafos atenderia a todos de maneira igualitária, priorizando somente serviços do governo.
De lá para cá, a ideia de neutralidade de rede evoluiu com o avanço das telecomunicações e o antigo código Morse (código utilizado na comunicação do telégrafo) foi substituído por uma profusão de dados e algoritmos. Na mesma escala, a implantação de infraestruturas que suportassem uma demanda crescente de dispositivos – especialmente quando os primeiros computadores de mesa começaram a proliferar nas residências – foi se tornando prioridade para assegurar de forma irrestrita o direito de acesso ao mundo conectado e a utilização em escala, de aplicações cada vez mais robustas.
Desde a primeira conexão à rede, ainda na década de 1960, a conectividade atravessou saltos evolutivos, passando pela internet discada, pelas ondas de rádio até o atual modelo de fibra óptica, que só no Brasil responde por 66% das conexões de banda larga fixa, de acordo com painel divulgado pela Anatel, suportando 28 milhões de negócios.
Mas a demanda por estruturas mais robustas e abrangentes para a oferta de uma conectividade potente e estável trouxe como exigência, a necessidade de altos investimentos na construção de backbones (rede de transporte por onde os dados da internet trafegam), dando origem a um movimento que levou ao uso de infraestruturas compartilhadas e passou a integrar o modelo de redes neutras, sem o qual a expansão da internet não teria alcançado 90% dos domicílios brasileiros (segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, divulgados pelo IBGE em setembro deste ano).
Compartilhamento como garantia de entrega
Na prática, a rede neutra, hoje, é entendida como uma modalidade colaborativa de infraestrutura, permitindo que desde as grandes operadoras até os pequenos provedores, os ISPs, utilizem simultaneamente as mesmas torres, antenas e cabeamento de fibra óptica e capacidades, pagando somente pelo uso. Esse formato de compartilhamento democratiza a infraestrutura, favorecendo a entrega da melhor conexão a todo perímetro de abrangência.
O modelo de redes neutras já é amplamente utilizado em países como Itália, Espanha e Reino Unido e vem desempenhando um papel fundamental na inclusão digital no Brasil. Podemos considerar as redes neutras como uma forma assertiva na oferta de conectividade, dispensando redundâncias e/ou sobreposições de infraestrutura e, consequentemente, eliminando despesas desnecessárias em engenharia e compra de equipamentos e insumos, bem como gastos adicionais com a manutenção e a modernização dos mesmos.
Aceleração pelo 5G
No nosso último artigo, comentamos como o 5G será necessário para assegurar o funcionamento adequado de tecnologias disruptivas que incluem IoT – Internet das coisas, veículos autônomos e outras que dependem inteiramente da conectividade. Considerando que a quinta geração da Internet tende a ser um catalizador de negócios totalmente digitais, as redes neutras devem se tornar a principal alternativa para viabilizar um substancial aumento dos pontos de conexão que vão fornecer a computação de borda – mais próxima do dispositivo – e a migração dos data centers para o edge computing – computação na borda da rede – que passam a ter dados descentralizados em diferentes centrais de processamento (edge data centers).
Nesse cenário em que a capilaridade e a qualidade da rede de fibra óptica será decisiva para a entrega de um sinal estável, de alta capacidade e com uma taxa de latência muito baixa, capaz de multiplicar a velocidade de aplicações com volumoso trânsito de dados, as redes neutras se apresentam como a solução escalável para ampliação da infraestrutura sem enormes impactos financeiros, possibilitando a oferta de pacotes de serviços mais atraentes a usuários residenciais, corporativos e governo.
Benefícios para todo o ecossistema
Ao avaliar esse cenário, podemos afirmar que os benefícios das redes neutras são extensivos à todo o ecossistema de uso da internet, do B2B ao B2C, onde operadoras e provedores racionalizam investimentos e podem se concentrar na oferta de produtos e serviços mais competitivos para clientes que, por sua vez, ganham com conectividade acessível e de boa qualidade. Este é o caminho para acabar com os abismos digitais e movimentar economias locais, viabilizando negócios para pequenos provedores e empreendedores da web, em última instância, criando condições para a evolução sustentável da sociedade brasileira.
Autor: Célio Mello, gerente de produtos da Eletronet
Fonte: Revista Infranewstelecom