No dia 29 de outubro 1969, a humanidade disparava seu primeiro email; cinco décadas depois, web tenta superar sua adolescência ultra-acelerada.
A ORIGEM
Para a maior parte das pessoas, aquele parecia ser um dia como qualquer outro. Mas para os pesquisadores americanos que trabalhavam na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada – ARPA, na sigla em inglês – era uma quarta-feira muito especial. Afinal, pela primeira vez, foi testada a ARPANET, a rede que interligava os computadores instalados em quatro universidades americanas, permitindo que os cientistas acessassem bancos de dado à distância e até trocassem mensagens usando os terminais. Nem tudo deu certo naquele 29 de outubro de 1969: a primeira mensagem, um comando “Login” disparado de um dos computadores, na Califórnia, acabou sendo recebido apenas como “Lo” por outro, no estado de Utah, porque o sistema todo caiu após alguns segundos – uma espécie de maldição que, décadas depois, continua a afetar apresentações de software mundo afora. Clichês à parte, nascia ali a Internet.
50 anos depois de seu parto, a rede mundial de computadores ainda parece longe de se tornar uma respeitável senhora. Mesmo tendo impactado praticamente todos os aspectos na vida de pessoas e empresas de todos os continentes – da forma como elas se informam, consomem, namoram, debatem, criam novos negócios, novas profissões, novas formas de produção e remuneração -, por vezes ela ainda lembra uma adolescente que cresce de forma meio desengonçada.
Embora ela tenha multiplicado seu tamanho nos últimos anos – a porcentagem da população mundial com acesso à rede triplicou em pouco mais de uma década –, a web ainda chega a menos da metade dos seres humanos. Ou seja, a fase de crescimento dessa jovem ainda está longe de terminar.
Em 2005, o mundo tinha 16% da população de 6,5 bilhões de pessoas conectadas. Em 2017, chegamos a 7,5 bilhões e penetração da internet de 48%
Ao mesmo tempo, a forma às vezes caótica como ela se expande, trazendo conceitos, dores e dilemas que até pouco tempo atrás eram desconhecidos – mídias sociais, e-governo, fake news, Dark Web, para ficar em alguns – mostra que essa Internet adolescente ainda não chegou às suas feições definitivas. Entender quais são suas principais tendências, para onde ela caminha e quais barreiras precisa enfrentar é um dos principais desafios do mundo atual.
PERÍODO JURÁSSICO
A Guerra Fria estava em um momento para lá de quente no início dos anos 60, quando surgiram as primeiras ideias do que viria a se tornar a ARPANET. Alguns anos antes, em 1957, os soviéticos haviam lançado o primeiro satélite da história, o Sputnik. Pouco depois, em 1961, foi a vez do cosmonauta russo Yuri Gagarin se tornar o primeiro ser humanos a atingir a órbita terrestre. Todos esses avanços preocuparam cientistas e militares americanos sobre a possibilidade de um ataque vindo do espaço destruir o sistema de comunicações do país, baseado em linhas telefônicas.
Dessa forma, em 1962, um cientista da agência ARPA chamado J.C.R Licklider sugeriu a conexão entre computadores – na época, máquinas do tamanho de uma geladeira com menos capacidade de processamento que uma calculadora atual – como uma forma de diminuir a chance de destruição em caso de guerra, pois suas conexões eram menos vulneráveis. De quebra, a conexão permitiria aos pesquisadores da agência espalhados pelo país uma troca de informação mais rápida. A proposta foi aceita e começou ali o desenvolvimento das tecnologias que levariam ao estabelecimento da ARPANET, em 1969.
O curioso é que, durante quase 20 anos, pouca coisa mudou nessa Internet. Os computadores se tornaram menores e com conexão mais rápida, enquanto o número de terminais conectados aumentou e chegou à Europa. Ainda assim, o ritmo desse crescimento era modesto.
A rede continuava a ser basicamente uma instituição governamental com um forte componente militar. Isso, claro, gerava a existência de uma série de normas burocráticas típicas do Estado. Um manual de conduta publicado em 1982, por exemplo, desencorajava o uso da ARPANET para o envio de conteúdo pessoal, mesmo que fossem mensagens de bom dia ou convites para um happy hour. Mandar propaganda comercial ou material político era algo expressamente proibido e podia resultar em cadeia para os envolvidos. Quanta diferença para o mundo atual…
Foi só no início dos anos 80 que a Internet ganhou força para sair dessa espécie de Era Jurássica, justamente separando sua metade estatal/militar do restante da rede, que também passou a adotar protocolos abertos de tecnologia de navegação, como o famoso IP. Foi o que bastou para ela começar a se espalhar com força pelos EUA – e mais tarde pelos demais países – pegando carona na nascente indústria digital da Califórnia, de onde viriam nomes como Apple, Microsoft e HP.
Após sua associação com a iniciativa privada, o passo final seria dado na virada da década de 90, com a criação de linguagens, protocolos e navegadores pelo cientista britânico Tim Berners-Lee, que padronizou a forma de acesso, troca de informações e uso da rede entre os diversos modelos de computadores. A chegada do navegador Netscape, em 1994 foi uma espécie de ponto final nessa primeira fase da web e significou a transição para a Internet moderna, tal qual conhecemos hoje – utilizada por quase 4 bilhões de pessoas no mundo. Agora, é hora de descobrir qual será o próximo grande salto.
Texto: Marcelo Cabral
Imagens: Unsplash e Reprodução
Fonte: https://www.experienceclub.com.br/post/internet-ano-50-parte-1