Brasil deve ter crescimento moderado a partir de 2019, dizem analistas.
Sem reforma da Previdência, resultado pode ser ainda mais fraco. Economistas alertam também para cenário externo mais turbulento e preocupação com desaceleração mundial.
As projeções apontam para um avanço mais forte do Produto Interno Bruto (PIB), mas a economia brasileira deverá manter uma recuperação lenta no próximo ano, já sob a presidência de Jair Bolsonaro. O PIB do 3º trimestre cresceu 0,8% na comparação com os três meses anteriores.
Por ora, os analistas acreditam que a taxa de crescimento deve ficar entre 2% e 3% em 2019 e que esse ritmo deverá permanecer modesto até o fim do mandato de Bolsonaro, em 2022.
O quadro econômico pode ser ainda mais complicado, uma vez que todas as previsões levam em conta a aprovação da reforma da Previdência. Sem ela, o crescimento deve ser mais fraco.
“A premissa central é que o governo vai entregar uma reforma da Previdência no ano que vem. Esse ponto é bem essencial para os nossos cenários básicos”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. “A recuperação ainda é muito gradual, sem ganho de tração, por isso nosso otimismo é bem cauteloso.”
Há uma série de fatores que explicam a lenta retomada dos próximos anos. Primeiro, famílias, empresas e governos entraram na crise endividados, o que diminuiu o espaço para consumo e investimento, atravancando a recuperação. Segundo, nos últimos anos, o Brasil gastou mal e fez investimentos em setores pouco produtivos e ainda tem de pagar por eles, o que dificulta uma aceleração do potencial de crescimento da economia. Terceiro, o colapso das contas públicas derrubou e continua limitado os investimentos da União, estados e municípios.
O ambiente internacional mais turbulento também pode dificultar um avanço mais forte da economia. Os analistas estão preocupados com a desaceleração econômica mundial em meio ao ambiente de guerra comercial, além da perspectiva de aumento de juros nos Estados Unidos, que poderia afetar o fluxo de capitais para países emergentes como o Brasil.
Os números colhidos pelo Banco Central no relatório Focus reforçam esta expectativa de lenta retomada. A mediana da expectativa dos analistas é de que o crescimento do país fique em 2,5% em todos os anos, de 2019 a 2022.
A eleição de Bolsonaro até afastou as previsões mais pessimistas para o Brasil. Ao longo da campanha, o então candidato do PSL ganhou o benefício da dúvida de que deve manter uma agenda reformista, sobretudo na área fiscal. Desde o fim do segundo turno, por exemplo, a confiança do comércio e do consumidor avançou, atingindo o nível mais alto em mais de 4 anos, segundo levantamento da FGV, e os principais bancos do país melhoraram a previsão de crescimento de 2019. O Bradesco elevou a previsão para 2,8%, de 2,5%, e o Itaú Unibanco subiu de 2% para 2,5%.
As projeções dos economistas são mais pessimistas que as da equipe econômica de Bolsonaro. No fim do segundo turno, o economista Carlos Alexandre da Costa – que colaborou com o plano econômico do PSL e que deve fazer parte do novo governo – afirmou que a economia brasileira já poderia crescer 3,5% no ano que vem.
Previdência é fundamental
A reforma da Previdência se tornou fundamental para sustentar as expectativas de crescimento. Embora os efeitos sejam sentidos apenas para o médio e longo prazos, a reforma é amplamente esperada pelo mercado e considerada fundamental para acertar as contas públicas.
“Há muita dúvida na capacidade política do presidente (Jair Bolsonaro) em avançar em uma reforma (da Previdência) adequada, correndo-se o risco de uma reforma aguada. Se este for o caso, é governo com média de crescimento de 2% a 2,5%”, diz o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
Sem a reforma, o Brasil deve enfrentar um ambiente perverso, com piora da percepção de risco dos investidores sobre os fundamentos da economia, o que tende a reduzir o crescimento.
Para os economistas, em meio à crise fiscal e espaço cada vez limitado nos orçamentos públicos, o nível de investimento tende a seguir baixo nos próximos anos e o consumo das famílias deverá continuar sendo o principal motor da recuperação do PIB, sustentado pela expansão da massa salarial em meio à queda da taxa de desemprego, ainda que em ritmo lento e puxada pelo aumento da informalidade.
Longa agenda
Para acelerar o avanço do PIB, o Brasil precisa melhorar a produtividade da economia, segundo analistas, e tem uma agenda bastante longa pela frente.
Além da questão previdenciária, o país precisa alterar outros pontos da questão fiscal – como rever parte dos subsídios -, endereçar uma reforma tributária, melhorar o ambiente para o investimento e avançar na qualidade da educação.
Fonte: Por Darlan Alvarenga e Luiz Guilherme Gerbelli